OUTRO PRÍNCIPE CHEGOU


A Sociologia é uma ciência, portanto, não é uma bola de cristal. Sua função não é prever o futuro, porém, possui categorias de análise e de pesquisa que permitem fazer prognósticos, elaborar perspectivas, criar cenários, hipóteses, etc. No campo da política, mais especificamente da governança, após passados os períodos eleitorais e empossados os novos mandatários e legislativos ( em Alegrete não é difrente), podemos fazer um exercício sociológico, utilizando algumas categorias de análise.
A mais importante, dentre tantas que podemos utilizar, é o conceito marxista de classe social, que além de ser uma identidade que se estabelece, localizada na estrutura social entre a burguesia x proletariado, é insuficiente quando não está qualificada pela consciência de classe que estipula a identidade proclamada pelo sujeito. Utilizando esta categoria, poderíamos fazer a primeira questão: a que classe social pertence o governante?
Outra categoria de análise não menos importante é a de trajetória, utilizada pelo sociólogo Pierre Bourdieu “como uma série de posições ocupadas por um mesmo agente” ao longo de um determinado tempo, portanto, a trajetória política de um governante pode se somar à categoria de ideologia (Altusser) como um conjunto de valores ou conceitos com considerações aos fatos sociais relevantes. Qual o conceito do governante, por exemplo, sobre o Movimento dos Sem Terra, sobre os Sem Teto? Qual a denominação que dá à ocupação do território: Invasão ou Ocupação? Aqui há uma valoração do discurso já profetizado, a utilização de conceitos ou preconceitos.
Talvez seja da trajetória profissional, já que mesmo individual, também é pública, que traga objetos de observação conceitual da fronteira entre o público e o privado.
As relações sociais e o pertencimento a um grupo social trazem, também, um referencial analítico, pois o ditado: “diga -me com quem anda, que te direi quem é” é uma grande contribuição do senso comum, baseada na observação empírica.
A categoria biografia e/ou autobiografia já é mais problemática, pois geralmente está contaminada pela vaidade e o gosto de falar de si, portanto, não é o retrato objetivo (fiel) da realidade, não é de todo inválida, apenas mais elástica, assim como a subjetividade. Poderemos utilizar outras categorias, como análise de discursos, anais etc que ficam mais para o campo da historiografia.
Maquiavel denominou de Príncipe o Governante, para nominar o político no poder e não precisar dar-lhe sua identidade, no caso, o nome próprio. Como funcionário público demitido, escreveu o Príncipe na tentativa de que o governante o lesse, entendesse seu espírito de colaboração, alertando sobre os perigos do poder, como dominar o povo, e este - O Príncipe – governante - revisse sua situação e o chamasse novamente aos cargos. Escrito em meados do século XVI, é impressionante a atualidade de sua obra, pois tem muito governante pensando que realmente é um Príncipe, tem muito funcionário público trocando de lado para ficar onde está, os que perderam pensando em voltar ou fazendo com que a agenda perdedora seja aplicada já que o Príncipe tem amigos de todos os lados. Das lições de Maquiavel, os políticos deturparam e aproveitaram na integra que “os fins justificam os meios”.
A inclusão da obra de Maquiavel neste texto, dá-se por também servir de categoria analítica sobre como se construiu o principado, no caso a governança local. Segundo ele: “digo que alguém chega a esse tipo de principado, seja pela vontade do povo, seja pela vontade dos grandes (.....) com efeito, encontram-se duas disposições de espírito diferentes: por um lado, o povo não quer ser nem comandado, nem oprimido pelos grandes; por outro, os grandes querem comandar e oprimir o povo”. É uma ou outra, mas não vão custar a aparecer os oportunistas pós-modernos para propor uma conciliação entre ambos. Como afirmou o filósofo Rosseau: “Maquiavel, fingindo dar lições aos príncipes, deu grandes lições ao povo”.
A Sociologia é uma ciência humana e não exata, suas aproximações são processuais e mutáveis, assim como é a vida, existem várias variáveis.



José Ernesto Alves Grisa
Prof. de Sociologia e Extensão Rural
da Escola Agrotécnica de Alegerete /RS
Mestre em Sociologia pela UFRGS

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