EUA são acusados de esconder provas de tortura em Guantánamo

Dois juízes do Tribunal Superior da Inglaterra e Gales acusaram nesta quarta os Estados Unidos de esconderem provas sobre a suposta tortura de um suposto terrorista preso na base naval americana de Guantánamo em Cuba.

Na resolução de uma audiência realizada a portas fechadas, os magistrados não divulgaram as evidências porque as autoridades americanas ameaçaram interromper a cooperação antiterrorista com o Reino Unido se os detalhes fossem divulgados.

Segundo os juízes, os advogados que representam o ministro de Exteriores britânico, David Miliband, indicaram que a ameaça continua vigente sob a nova Administração do presidente Barack Obama.

O detento em questão é o etíope Benyam Mohammed, 31 anos, com status legal de residente no Reino Unido, que está há mais de quatro anos em Guantánamo acusado de conspirar com a rede terrorista Al-Qaeda para cometer atentados contra civis.

No auto, os juízes John Thomas e David Lloyds Jones afirmam que as provas de suposta tortura deveriam ser divulgadas, independente de quão "embaraçoso possam ser politicamente".

Thomas e Jones destacam que não tinham "nenhuma razão" para imaginar que "haveria uma ameaça tão grave como a efetuada pelo Governo dos Estados Unidos de que reconsideraria o compartilhar informação de inteligência" com o Executivo de Londres se fossem divulgadas uma parte "limitada, mas importante", das provas.

Ao saber da resolução judicial, o deputado conservador David Davis, ex-porta-voz de Interior do principal partido da oposição, pediu, no Parlamento, explicações ao Governo.

Segundo Davis, o auto sugere que o Reino Unido foi cúmplice das supostas torturas infligidas a Mohammed, e exigiu que o ministro de Exteriores faça uma declaração assim que for possível para "explicar o que diabos está acontecendo".

O parlamentar conservador ressaltou que David Miliband tem que esclarecer o "nível de cumplicidade" das autoridades britânicas nas supostas torturas.

Em agosto, Mohammed já ganhou uma batalha legal após o Tribunal Superior ter decidido que o Governo britânico deve revelar a informação que o preso reivindica como prova de que sofreu torturas.

O etíope argumentou naquela ocasião que os documentos do Governo britânico apoiam sua tese de que as provas apresentadas contra ele foram obtidas através de tortura.

Os juízes Thomas e Lloyds Jones decidiram então que o Ministério de Assuntos Exteriores do Reino Unido deve "revelar sob confiança" a informação que "não só é necessária, mas essencial" para a defesa do suspeito.

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